sábado, 2 de outubro de 2010

Drops GG#001: lançamentos (ou quase isso)

Perdido no meio de tantos lançamentos? Não sabe por onde começar? O GG#001 preparou "Lançamentos (ou quase isso)", um drops especial para ajudar você a se guiar pelas estantes e sites de livrarias. Poesia e prosa, estreantes e veteranos... tem de tudo, é só escolher.

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Em alguma parte alguma - Ferreira Gullar

Depois de 11 anos sem publicar nenhum livro de poesia (o último havia sido Muitas vozes, em 1999), Ferreira Gullar lança esse Em alguma parte alguma em momento especial: aclamado como o "maior poeta brasileiro em atividade", ele acaba de completar 80 anos e ser homenageado com o prêmio Camões. Assim como em livros anteriores de Gullar, os poemas de Em alguma parte alguma também carregam muito da pulsão de vida característica da literatura do autor, que aqui se contrapõe justamente à temática de grande parte dos poemas: a morte e algumas de suas variantes, como a eternidade e o silêncio: "e então me digo: / se o mundo dura tanto /e eu tão pouco / importa pouco / se ele não for eterno".


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Verão em botafogo - Thiago Camelo

O livro de estréia de Thiago Camelo traz poemas curtos, simples e é justamente nessa simplicidade que reside o lirismo dos textos, confirmando a tese de que geralmente exagero só serve mesmo para esconder falta de sensibilidade e talento. Verão em botafogo é, sem dúvida, um livro bonito e honesto, bem como o poema "Terra": "meus pés encontram o chão e faz sentido // eu, porto seu /você, porto meu // a vida não é uma abstração / se /estamos perdidos e juntos"






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Involuntário - Luiz Fernando Priamo

O autor começou a postar poemas em seu blog, o Otário Involuntário (através do qual é possível também adquirir o livro), e juntou esses textos a outros inéditos, formando assim o repertório do seu livro de estréia. Os poemas versam, em sua maioria, sobre o cotidiano e frequentemente trazem um tom irônico e de crítica, como em "Oco": "Passa a semana coçando, / na inatividade de sua vida. / Ao final de semana, dois dias, / um para pecar no puteiro, / outro para rezar por Maria."





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O único final feliz para uma história de amor é um acidente - J.P. Cuenca

Quinto livro da coleção Amores Expressos. João Paulo Cuenca foi a Tóquio e trouxe de volta um livro maluco sobre voyeurismo, bonecas infláveis, peixes venenosos e poetas. A primeira metade do livro é bem mais interessante, construindo uma bela tensão dramática que, infelizmente, não é realizada na segunda parte com tanta eficiência. De qualquer modo o livro vale a pena, nem que seja só pelas sequências dos acidentes, essas sim muito bem desenvolvidas.




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Areia nos dentes - Antônio Xerxenesky

Esse não é exatamente um lançamento. Areia nos dentes, de Antônio Xerxenesky, foi lançado em 2008 pela Não Editora e agora ganha uma reedição da Rocco. Fiz uma resenha completa aqui, mas se você está com preguiça de clicar no link ou de ler o texto inteiro, eis tudo que você precisa saber sobre o livro: Areia nos dentes é um faroeste com zumbis, que brinca com metaficção e é divertidíssimo. Leia.






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Uma História à Margem - Chacal


Não é preciso dizer muito: livro de memórias de Chacal e Chacal é O cara. Da infância do poeta aos dias de hoje, passando pela efervescência da poesia marginal dos anos 70 e pela a agitação cultural do CEP 20.000, em plena atividade no Rio de Janeiro. Imperdível.
Trecho: "um-motor-ligado no meio da noite fria, vazia, silenciada. outros motores riscam o asfalto da noite. outros seres empreendem a jornada. entre o passado e o futuro. entre o futuro e o passado. tudo-no-presente. tudo-no-presente. tudo-no-presente. o som que risca o silêncio aqui, agora, deixa um rastro na memória e vira linguagem. o silêncio não aparece. nada aparece. está escuro e silêncio. apenas o-motor-ligado me esperando para a longa jornada. aos seios de duília? melhor não. uma tumultuada, uma indecifrável jornada para dentro de mim. da linguagem. da minha linguagem. da minha vida. um-motor-ligado me espera no silêncio da noite. tudo escuro. o-motor-ligado e uma porta de carro que fecha. o carro parte. e risca o silêncio. acende a linguagem. eu continuo aqui. ou não?"


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