sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Não há nada que você cante que não possa ser cantado

Uns meses atrás, enquanto curtia meu momento (tardio) de beatlemaníaca, fui tomada pela súbita vontade de transformar aquelas músicas em poemas. Comecei por Something, que virou “Negação”, já conhecido do público do Eco e do meu blog. E depois não fiz mais nada. Até que há aproximadamente 3 semanas, quando pensava num projeto final para uma oficina de criação literária, lembrei dessa idéia e resolvi montar o The Beatlemania Project (nome horrível, eu sei): peguei 18 músicas, ouvi à exaustão, copiei as letras, li e reli incontáveis vezes e tirei, dali, 18 poemas. O resultado final deve aparecer em livro no ano que vem, na coletânea da oficina, mas resolvi trazer 7 dos poemas pra cá e lanço então um desafio: durante a leitura do poema, tente adivinhar a qual música ele se refere. As duas pessoas que acertarem mais e mais rápido ganham, cada uma, um livro (O porte, do Rogério Tadeu, ou Deus sabe de tudo e não é dedo-duro, do Juliano Nery) e um marcador dos Beatles (que veio diretamente de Londres).


melhor

manter sempre
sob a pele
no peito
dentro, fora

a cada dor a pausa
e a certeza de que

não se entregar esfria
mais que si
o entorno

no ombro o movimento
não o mundo

*

fogo

e minha certeza
sempre foi de que

sim:
ela era minha

na cabeça, o filme –
nenhuma cadeira
vinho
tapete
banheiro às duas da manhã
(no fundo a gargalhada) –
longe, o ruído das asas

mas não:
eu era dela

*

caminho de casa

nós duas dirigimos
(ainda sem chegar)

e mandamos postais
e escrevemos cartas em muros
e rasgamos livros
e queimamos fósforos
e vestimos casacos sob o sol de domingo
e arranhamos discos
e procuramos papéis
e arrancamos adesivos
e gastamos o suado dinheiro de alguém
e quebramos cadeiras
e estilhaçamos copos

enquanto isso –
é melhor acreditar:
voltar pra casa
não importa

nenhuma estrada supera
a extensão das memórias

*

decolagem

uma vida inteira
por um momento

voa

para dentro da luz
da noite

*

uma dose

em espelhos de arco-íris
não sinto mais que mãos de veludo

segura em meus braços
dedo como gatilho
não há quem possa me fazer mal
você é quente
e a felicidade

também

*

lição número 1

é fácil:
você aprende o jogo
você entra no ritmo
você faz mais um poema

sobre como o amor não é nada
além de

tudo

que você precisa

*

era uma vez

nos olhos as luzes
douradas

reflexo de quando era possível
voltar

pra casa

terça-feira, 16 de novembro de 2010

"Ou não... Contracultura, poesia, música e outras esquinas"


Release:
Recuperando o espírito beat das leituras poéticas unidas à música, "Ou não..." faz um passeio não-linear e descompromissado pelo universo da contracultura, partindo de precursores beatniks (como Allen Ginsberg, Jack Kerouac e Gary Snider), passando por Torquato Neto e poetas da poesia marginal dos 70 (Leminski, Chacal, Leila Micolis e Marta Medeiros) e desembarcando em JF, em pleno Kaos do terceiro milênio com textos do poeta André Monteiro, que também divide as leituras com Bruno Tuller, Edwald Winand, Edson Leão e a atriz Lívia Gomes.
Costurando esse "sarau underground", canções brasileiras que puseram o pé na estrada em meio à ditadura, ao "desbunde", à descompressão do corpo e do espírito via sexo, política, drogas e rock 'n' roll. Tropicalistas, Clube da Esquina, nordestinos... Malditos... ou não...
Fechando o ritual, mais uma dose de rock e canções setentistas em versões acústicas com a Fantástica Banda Invísivel.
*
Ficha técnica:
"Arremate" cênico : Marcos Marinho
Costura de textos e roteiro : "Encruzilhada da Contracultura" - André Monteiro (poeta e professor universitário), Bruno Tuller (historiador e compositor), Edwald Winand (historiador, compositor e livreiro), Edson Leão (cantor, compositor e jornalista), Valéria Leão Ferenzini (historiadora, cantora e compositora), Fabrícia Valle (musicista) e João Paulo Oliveira (poeta).
*
"Ou não... Contracultura, poesia, música e outras esquinas"
acontece no dia 20 de novembro, sábado, a partir das 22h no Espaço Mezcla
(Rua Benjamin Constant, 720, Centro - JF).
*