domingo, 27 de novembro de 2011

Dois poetas, dois poemas

Como vocês sabem, o blog recebe de braços e olhos abertos contribuições tanto de textos críticos como de criação literária. E volta e meia chegam coisas sensacionais para nós, seja pelo email do blog, seja diretamente para o email das editoras. Acontece também de a gente receber textos de poetas e amigos e gostarmos tanto que pedimos para publicar aqui. E é esse o caso dos poemas que vocês vão ler agora, dois ótimos textos que recebemos recentemente, de dois poetas já conhecidos por aqui. Esperamos que vocês curtam como nós curtimos. Não acontece sempre, mas é sempre bom abrir a caixa de entrada e dar de cara com textos como esses. 



Revelação em branco e preto
Anderson Pires

Para Heitor Magaldi.

Se o amor fosse exata aritmética
Cálculo perfeito
Sustentado na respiração hesitante
Excitante
Da mulher conquistada

O engenheiro calcularia as probabilidades
Do invariável sentimento
Até formular a equação
Um ama
Outro se deixa amar

Por esse teorema mereceria mais
Além do Nobel
Todo ouro e diamante 
Se não fosse ele 
O elemento inconstante

Tudo o que deseja te habita
Mesmo irresponsável pelo o que cativas.


Anderson Pires nasceu em Angra dos Reis, RJ, em 1972. Formou-se em Letras pela UFJF e doutorou-se em Literatura pela PUC-Rio. Durante o ano de 2000, publicou a novela Los Paranóias no fanzine URGH!, em Juiz de Fora e participou da antologia Livro de Sete Faces. Publicou em 2009 o livro Mário & Oswald: uma história privada do modernismo (7 Letras) e em 2010 o folhetim de horror Malditos no blog Signo de Plutão. É professor de Literatura no CES-JF. 

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vida e morte de torquato neto*
André Monteiro

escorpião, veneno delicado
traços ternos e tesos de guerreiro apaixonado
escorpião, água de entranha
seu segredo sua ferida saída
precisa sina de anjo torto
negra solidão do cosmos
não se trai em sua própria traição
todo dia é dia D
amar-te amor-te morrer
entre hades e ares
o arco aflito do corpo fala com o fogo e o frio na língua
e não encontra palavra
escorpião:
o fim é o início da linha da mão

escorpião é o signo de minha mãe
minha mãe é o signo de escorpião
o signo é o escorpião de toda vida
a vida é o escorpião de todo signo

* ...09 de novembro de 1944 & 10 de novembro de 1972...

André Monteiro nasceu em São João Del Rei, Minas Gerais e é pós-doutor em literatura pela PUC-Rio e professor de Literatura Brasileira na UFJF. Publicou A ruptura do escorpião: Torquato Neto e o mito da marginalidade (2000) e Ossos do ócio (2001), ambos pela Editora Cone Sul. Participou ainda como co-autor dos livros Antologia Massa-Nova (Fortaleza), Caos Portátil (México) e Livro de Sete Faces (Juiz de Fora).

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E seus textos também podem aparecer aqui!
Manda pra gente: geleiageral001@gmail.com

domingo, 20 de novembro de 2011

Lançamento e sorteio de "Arqueologias do olhar", de Frederico Spada Silva

Essa semana mais um livro de estreia de um jovem e talentoso poeta será colocado no mundo literário. É o Arqueologias do olhar (FUNALFA, 2011), do Frederico Spada Silva (que já esteve por aqui). Abaixo você confere o convite de lançamento:



O que falaram sobre Arqueologias do olhar?

Agindo como um homem que escava, assim se inaugura na poesia Frederico Spada: suas imagens legitimam, na densidade como se tecem, a escavação da calma, dos sonhos, da palavra e do existir. O lançamento de Arqueologias do olhar traz à literatura brasileira contemporânea o projeto poético de um jovem constantemente inquieto com a existência e precocemente apaixonado pelas tramas da linguagem. Ao mesmo tempo em que Frederico Spada mostra-se ávido por inserir-se no ritmo das pulsações da contemporaneidade, sua índole poética recusa-se a deixar-se tragar pelos modismos proliferantes, o que confere à sua produção poética um caráter peculiar: sua arqueologia consiste também na escavação de uma convergência – trata-se da convergência entre a tradição e a vanguarda, entre o popular e o erudito, ou seja, sua poesia consubstancia-se como um palimpsesto de vozes.” (Helena Maria Rodrigues Gonçalves)

E como o Fred já é de casa, adiantou para o Geleia Geral três dos poemas que estarão no livro, confira!


DESCOBRIMENTO DA CARNE

Feito oceano de mistérios e segredos
tua boca de procelas
me inunda de carícias:
içar velas,
navegar teu corpo,
fincar bandeira
em teu colo –
terra estrangeira.

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A GRANDE TRAVESSIA

Dentro do frio
rio.

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(A Manoel de Barros)

Máquinas de escrever
desescrevem o silêncio.
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Curtiu os poemas? Quer um livro? Bom, você pode concorrer aqui a um exemplar grátis e autografado de Arqueologias do olhar, que será enviado para o conforto do seu lar! 
 
Como? Muuuuito fácil! você deve seguir apenas 2 passos:

1) Curtir a página do Geléia Geral no Facebook (clica aqui)

2) Compartilhar no seu perfil do Facebook (é só copiar, colar e publicar) a seguinte frase: “Eu curto o Geléia Geral #001 e quero ganhar um exemplar de 'Arqueologias do olhar', de Frederico Spada Silva http://bit.ly/sZT6mq”

No dia 25/11, às 16h, faremos o sorteio e divulgaremos o resultado. Todo mundo que curtir a página do Geléia Geral no Facebook e publicar o texto indicado em seu perfil (tem que fazer as duas coisas, ok?) durante esse período está concorrendo! Entraremos em contato com o vencedor via mensagem no Facebook. 
Boa sorte ;) 


Update:

Sorteio realizado! Fizemos pelo random,org, atribuindo a cada participante um número de acordo com a ordem. O primeiro a curtir a página e publicar a frase foi o número 1, o segundo foi o número 2 etc. O número sorteado foi o 3, correspondente à participação da Silvana Cruz. Parabéns, Silvana! Vamos entrar em contato com você para que possamos enviar seu livro :)



E para quem não ganhou, duas dicas: 1) O livro do Fred Spada pode ser comprado pelo email arqueologiasdoolhar@gmail.com; 2) Semana que vem tem mais sorteio... e sortearemos DOIS livros, fiquem ligados.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

breve tipologia para um romance naturalista

André Monteiro

usa chapéu porque deseja parecer poeta, ou pintor francês, ou cineasta italiano, ou porque leu, ou nem leu, gilles deleuze e deseja ser gilles deleuze. gosta mais de frio do que de calor porque no frio pode se sentir mais europeu e não apenas beber, mas, principalmente, falar com suposta propriedade, tal como um animal refinado, sobre todos os vinhos do mundo. acha bonito ser um jovem de classe média blasé e se masturbar com rock inglês num sábado de tarde nublada. num piscar de olhos, acha que pode se livrar de todos os vícios e dicotomias ocidentais porque leu, ou nem leu, o santo nietzsche. facilmente confunde transgressão com grosseria. faz dança e anda por aí como quem faz dança. beija e abraça todo mundo como quem acredita (ou quer parecer que acredita) que abraçar e beijar todo mundo é ter o corpo livre. todo mundo não, bem entendido, só os mudernos, os que não são mudernos finge que não vê. fala mole, tal como o afetado do avô bicho grilo fala mole, tal como se ninguém tivesse que pagar a conta da sua velha boutique neo-hippie. fala mole e arrastado tal como se o mundo fosse mole e arrastado. goza com o pau dos outros sem a menor cerimônia. acredita que para ficar nu basta tirar a roupa e que ser um artista do corpo é produzir o escândalo do corpo e tratar o público como um débil mental que se choca, se chocaria, com excrementos aureolados. nem desconfia que qualquer picareta, alpinista social travestido de artista, se sacraliza com a estátua da própria pica, ao roçar, na hora certa, curadorias de merda. acha bonito beijar seus amigos na boca na frente de todo mundo. certamente, não fica à vontade em sua enorme preocupação de ser visto como uma pessoa super à vontade. talvez não passe de uma vida amassada e pisada pelos padrões escolásticos da indústria cultural odara. talvez não saiba que existem padrões escolásticos da indústria cultural odara. acha que é possível viver  uma relação aberta e não ter ciúmes de nada ou ninguém, nem sentimento de posse sobre qualquer coisa no mundo, a não ser, obviamente, sobre suas receitas psiquiátricas de anti-depressivos e indutores de sono. acha que é um antropófago só porque mistura meleca com baião e guitarra elétrica com arrotos de oswald de andrade. se acha poeta porque escreve coisas muito difíceis e enfadonhas, como a maioria das coisas que são vendidas por aí como poesia séria. aprendeu a lição. vai dormir como um poeta. acordar como um poeta. tomar banho como um poeta. se masturbar como um poeta. cagar como um poeta e adorar ser chamado de poeta pelo porteiro do seu prédio, que nunca leu seus “poemas”, mas viu sua foto no jornal. acha que basta ler baudelaire para perder a risível auréola. não conversa em mesa de bar. dá entrevistas, ou, de preferência, faz palestras transdisciplinares. não faz mais diferença entre esquerda e direita e viaja tranquilamente no dia das eleições. acha que todos os discursos politicamente corretos são corretos. como a maioria dos amigos politicamente corretos, defende as minorias porque a maioria dos amigos politicamente corretos se consideram minorias. acredita que a margem é a margem e o centro é o centro. acredita em papai noel. acha que tudo o que é natural é bom e nem desconfia que tudo o que chama de natureza não passa de um engodo cultural que lhe foi ensinado pelos escoteiros da ecologia. acha que vai salvar a floresta amazônica votando em candidatos do partido verde patrocinados pela natura. acha que é possível gostar de literatura e não gostar de política literária. acha bonito ter amigos artistas e contar isso pros amigos não artistas. apóia todos os projetos de incentivo à leitura e fruição das artes. acha que ler nunca faz mal à saúde. acha que é filósofo porque se formou em filosofia. há muitos séculos confunde inteligência com erudição. está morto e não sabe e, talvez, nem lhe interessa saber. interessa, certamente, aos urubus famintos que, como eu, já não podem apenas rir da falta (de carne e sangue) que cobre esses velhos ossos ilustrados pelos fins do século XXI.


André Monteiro nasceu em São João Del Rei, Minas Gerais e é pós-doutor em literatura pela PUC-Rio e professor de Literatura Brasileira na UFJF. Publicou A ruptura do escorpião: Torquato Neto e o mito da marginalidade (2000) e Ossos do ócio (2001), ambos pela Editora Cone Sul. Participou ainda como co-autor dos livros Antologia Massa-Nova (Fortaleza), Caos Portátil (México) e Livro de Sete Faces (Juiz de Fora).

domingo, 23 de outubro de 2011

Drummond é o cara!

No dia 31 de outubro de 1902 nascia aquele que seria o nosso poeta maior. Carlos Drummond de Andrade dispensa qualquer apresentação. E a ideia é transformar o dia do nascimento do poeta em um dia de grande celebração de sua obra: o Dia D de Drummond.



Na página dedicada ao Dia D (organizado pelo Instituto Moreira Salles) você pode ter todas as informações. Mas a ideia principal é, por meio de eventos, leituras e o que mais der na cabeça, divulgar e celebrar a obra do poeta mineiro.

Aqui no GG#001 já entramos no clima e apresentamos duas leituras bastante distintas da obra de Drummond. A primeira foi realizada pelos alunos do minicurso "Literatura e novas mídias", ministrado por Luiz Fernando Priamo e Laura Assis na IV Semana de Letras da UFJF. Os alunos tiveram contato com as possibilidades da literatura em mídias sociais e ferramentas de compartilhamento de conteúdo online e, na hora de escolher um texto para fazer um experimento no Soundcloud, o nome de Carlos Drummond de Andrade foi praticamente unanimidade. Confira então a gravação do poema "Mãos dadas":



Já a segunda leitura é do poema "Carta" e a voz é do próprio Drummond.



E já que a ideia é divulgar cada vez mais a obra de Carlos Drummond de Andrade, convocamos vocês a nos contarem nos comentários qual o livro, poema ou verso dele que vocês mais gostam. E se vocês forem mais animados ainda e também quiserem gravar uma leitura de um poema do Drummond (seja em áudio ou vídeo), mandem para nós que publicaremos aqui em um próximo post!

O email é geleiageral001@gmail.com

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

5 músicas baseadas em livros

1. "Is everybody in?" – The Doors
A 17ª música do álbum Stoned Immaculate da banda The Doors traz uma versão de Jim Morrison para o poema "Is everybody in?", do, não menos maluco, William S. Burroughs. Nada estranho para quem, desde o início do grupo, se baseou em poetas de todos os tipos, como Morrison.




2. "Killing an Arab" – The Cure
Somente uma chance para vocês: “Standing on a beach/ With a gun in my hand /Staring at the sea/ Staring at the sand/ Staring down the barrel/ At the arab on the ground/ See his open mouth/ But hear no sound”. Mais uma, então: “I'm the stranger/ Killing an arab”. Quase auto-explicativa: O Estrangeiro, de Albert Camus. O título da música também deu nome ao primeiro single da banda 80’s, em 1978.




3. "Wuthering Heights" – Kate Bush
Impossível escrever um post sobre esse assunto e não falar dessa. A música "Wuthering Heights" se refere ao romance homônimo de Emily Brönte que narra um amor destrutivo, quase doentio entre dois jovens. Essa música marca a infância de muita gente, principalmente, pela face fantasmagórica que Kate Bush assume no clipe. Mesmo após várias versões, o refrão grudento ainda é lembrado na voz de Kate: “Heathcliff, it's me, I'm Cathy, I've come home/ I'm so cold, let me in in-a-your-window”





4. "A-lex"  – Sepultura
Pra mostrar que metal não é só gritaria, os meninos do Sepultura, depois de lançarem, em 2006, o Dante XXI, um álbum baseado na obra mais representativa de Dante Alighieri, lançaram, em 2009, o álbum A-lex baseado na obra de ficção científica de Anthony Burgess, Laranja Mecânica. O nome, além de fazer alusão a personagem central do livro, ainda traz uma expressão latina que significa “sem lei”, quase um trocadilho.




5. "Brave New World" – Iron Maiden
Usando como mote a obra futurista de Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo, o Iron Maiden também integra nossa lista. Na verdade, o título para o álbum veio da citação da obra de Shakespeare, na peça A Tempestade: "How beauteous mankind is! O brave new world, that has such people in't!", o que já bastaria para chegar aqui, certo? Porém, ao reler o livro de Huxley, Bruce Dickinson achou que a obra valia uma música no álbum e voilà.




E o Geleia Geral #001 quer saber: qual livro você acha que merece ser musicado e por quem?


quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Que poema você queria ter escrito?

Fizemos essa pergunta para três poetas. Confira as respostas.


"Beleza, refinamento e inteligência são apenas alguns dos atributos da série Três Epifanias Triviais, do livro Macau, de Paulo Henriques Britto, poemas que fazem parte da alvenaria do meu mundo. Levando em conta os modos retóricos que Ezra Pound utilizou para definir a linguagem poética: o som, a imagem e a idéia, vemos que Paulo Henriques Britto maneja habilmente o enlaçe entre os três planos. A banalidade de um lance visual, como uma xícara quebrada, as louças de Pompéia ou a abertura de um pote de pessegos em calda, contribui com o sofisticado jogo de linguagem e pensamento que está pulsando nas entrelinhas. Não que isso tenha a mínima importância."

Lucas Viriato é poeta - publicou Memórias indianas (Ibis Libris, 2007), Retorno ao Oriente (7Letras, 2008) e Contos de Mary Blaigdfield, a mulher que não queria falar sobre o Kentucky - e outras histórias (7Letras, 2010) - e editor do jornal Plástico Bolha.

[Este é apenas um dos textos da série escolhida pelo Lucas, que conta ainda com mais dois poemas]


"Eu queria ter escrito “Caso pluvioso”, do Drummond. Não é, obviamente, o maior poema dele, mas reúne quase tudo do que considero um bom poema. Primeiro, tem um ritmo e uma sonoridade pra lá de fluidos, que disfarçam e quebram a dureza dos decassílabos. Tem um conteúdo narrativo que em nenhum momento vira narração pura (por conta da questão anterior). Tem uma linguagem altamente criativa (todo aquele leque léxico de palavras derivadas de ‘chuva’), com umas inversões sintáticas elegantes. Além disso, é escrito em dísticos, que é um troço dificílimo de se fazer."


Diego Grando é poeta, autor de Desencantado carrossel (Não Editora, 2008) e Palavra Paris (Não Editora, 2011)






“Eu poderia escolher uma infinidade de bons poetas, como Drummond ou Bandeira. Mas a minha relação com o Augusto dos Anjos vai além do texto... A minha adolescência não foi diferente de nenhuma outra, sofri bastante, como todos. Entretanto eu gostava de poesia, meus amigos não. Encontrei nos versos de Augusto dos Anjos inspiração e compreensão. Naquela época, há 10 anos, eu achava que poesia era, somente, se encontrar nas palavras de outrem. Além disso, eu me senti muito feliz, de com 12, 13 anos, “descobrir” um poeta e não simplesmente estudá-lo nas aulas de literatura. Escolhi esse por conta do verso mais me marcou naquela época: “Ser homem! Escapar de ser aborto!”. Era muito difícil explicar porque eu gostava tanto, pois todos se baseavam pelo lado raso da significação. Depois de Augusto dos Anjos conheci muitas coisas, mas  sem dúvida minha admiração continua.”

Anelise Freitas é poeta e seu primeiro livro, Vaca contemplativa em terreno baldio, sai mês que vem. Enquanto isso ela mantém o blog com o mesmo nome.



[Esse é apenas o primeiro trecho do poema escolhido pela Anelise, que pode ser lido na íntegra aqui]

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Qual foi o último livro que você leu? O que você está lendo agora? E qual é o próximo da lista?

LARISSA ANDRIOLI

Leu: High fidelity, de Nick Hornby.
O que achou? Foda. É incrível como ele disseca a construção que nós temos do amor sem perder a leveza e o humor. E sempre tocando uma música no fundo.
Um trecho que sublinhou: "It seems to me that if you place music (and books, probably, and films, and plays, and anything that makes you feel) at the center of your being, then you can't afford to sort out your love life, start to think of it as the finished product. You've got to pick at it, keep it alive and in turmoil, you've got to pick at it and unravel it until it all comes apart and you're compelled to start all over again. Maybe we all live life at too high a pitch, those of us who absorb emotional things all day, and as a consequence we can never feel merely content: we have to be unhappy, or ecstatically, head-over-heels happy, and those states are difficult to achieve within a stable, solid relationship. Maybe Al Green is directly responsible for more than I ever realized. See, records have helped me to fall in love, no question. I hear something new, with a chord change that melts my guts, and before I know it I'm looking for someone, and before I know it I've found her."


Está lendo: 2666, de Roberto Bolaño
O que está achando? Li pouco, mas estou gostando muito por enquanto. Tem um ritmo que não te deixa largar o livro (carrego o tijolo pra ler em ônibus, até), o que é interessante numa obra desse tamanho. Ao mesmo tempo que constrói uma trama instigante, dá pra ver também como o escritor sabe contruir sua narrativa e sua habilidade com as palavras.

Vai ler: As correções, de Jonathan Franzen.
Por quê? A intenção inicial era ler Liberdade, mas aí a Laura elogiou tanto o anterior que resolvi ler antes. Quer dizer, se sobreviver às 848 páginas que estou encarando agora.





LAURA ASSIS

Leu: As correções, de Jonathan Franzen.
O que achou? Sensacional. Leiam, apenas isso
Um trecho que sublinhou: Ficou pateticamente óbvio que tinha pensado que seus livros pudessem lhe render centenas de dólares. Afastou-se das lombadas acusadoras, lembrando como cada uma delas tinha acenado para ele numa livraria com a promessa de uma crítica radical da sociedade capitalista avançada, e o quanto ele ficara feliz em levá-las para casa. Mas Jürgen Habermas não tinha as pernas longas e elegantes de Julia, lembrando uma pereira, Theodor Adorno não tinha o cheiro de vinho lascivo e maleável de Julia, Fred Jameson não tinha a língua habilidosa de Julia. Em torno do começo de outubro, quando Chip enviou seu roteiro acabado para Éden Procuro, já tinha vendido suas feministas, seus formalistas, seus estruturalistas, seus pós-estruturalistas, seus freudianos e seus gays. Quando precisou levantar dinheiro para o almoço com seus pais e Denise, tudo que lhe restava eram seus amados historiadores da cultura e sua obra completa de Shakespeare da Arden, encadernada; mas como uma certa mágica residia em Shakespeare – os volumes uniformes, em suas sobrecapas azul-claras, eram como um arquipélago de refúgios –, empilhou seus Foucault e seus Greenblatt e Poovey em uma sacola de compras, e vendeu todos por cento e quinze dólares.”

Está lendo: Liberdade, de Jonathan Franzen.
O que está achando? Ainda não estou nem na metade, mas por enquanto me parece inferior ao anterior. Só que o inferior do Franzen é muito bom, há que se observar. De qualquer maneira é impressionante como a escrita desse cara pega e eu simplesmente fico todo dia até 2 da manhã lendo. Veremos.

Vai ler: A página assombrada por fantasmas, de Antônio Xerxenesky.
Por quê? Estou só esperando meu exemplar chegar e assim que terminar o Franzen parto para ele. O motivo? Leria de qualquer maneira, porque gostei bastante do livro anterior do Xerxenesky (Areia nos dentes, resenhei aqui) e quero saber o que ele arrumou agora, a sinopse me chamou bastante atenção. Mas tem também o lance de que acho que será interessante para minha dissertação (cujo texto final preciso entregar mês que vem, mas acho que ainda dá para falar algo sobre).







PAMELLA OLIVEIRA

Leu: Coisas Frágeis vol.1 e 2, de Neil Gaiman.
O que achou? Regular. É difícil ler um livro sem compará-lo com o que você considera a obra prima do autor; eu, nesse caso, penso em Sandman, que é o que eu já vi de mais perfeito no quesito quadrinhos, mas esse livro de contos (e alguns poemas) do mesmo autor deixou muito a desejar. Claro, tem as referências culturais típicas do estilo dele, mas achei muita coisa desnecessária e pouca coisa aproveitável que, embora sejam ótimas, não conseguem salvar o livro.
Um trecho que sublinhou: ‎"Tenho pouca paciência para as estações aqui, mas a sua chegada aliviou o frio deste inverno"


Está lendo: Trilogia de Nova York, Paul Auster.
O que está achando? Estou gostando muito por enquanto, ainda estou no primeiro livro, Cidade de Vidro, que tem se mostrado um suspense policial muito inteligente, com vários confrontos de identidade que chegam a me deixar tonta. Estou confiante e acreditando que será uma ótima leitura, como tem sido até agora.


Vai ler: Os homens que não amavam as mulheres, Stieg Larsson. 
Por quê? Dentre todos os que eu pretendo ler, esse é um dos mais cotados para próximo livro, principalmente, porque é um ótimo título, certo? Foi muito bem recomendado também, não ouvi nada de ruim dele ainda, somente que foi uma pena o autor ter morrido etc. Mas me parece um livro interessante e pretendo descobrir em breve.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

A presença na ausência

A trivialidade do vazio em Nada me faltará, de Lourenço Mutarelli.


No seu mais que clássico livro de 1965, Obra aberta, Umberto Eco caracteriza a arte como “uma mensagem fundamentalmente ambígua, uma pluralidade de significados em um só significante”. Trago à tona essa reflexão apenas para introduzir a ideia que, dentro da dinâmica que envolve a recepção de uma obra de arte, entregar o jogo, na maior parte das vezes, pode ser considerado um problema. Quando não é claramente uma estratégia – romances tradicionais de detetive, por exemplo, nos quais cada detalhe é esmiuçado no último capítulo –, explicar demais pode acabar dando a impressão de ingenuidade ou pretensão. Em alguns casos, as duas coisas.

Mas talvez ambigüidade, a palavra usada por Eco, não seja exatamente a melhor definição do que acontece em Nada me faltará (Companhia das Letras, 2010), de Lourenço Mutarelli. Mais que a dúvida, é a absoluta falta de respostas, detalhes e maiores explicações que marca grande parte da narrativa.

Estruturado apenas na forma diálogos, a linha que comanda todo o livro é o mistério em torno de Paulo, um homem que simplesmente desaparece com a mulher e a filha e ressurge um ano depois, sozinho, sem memória e sem idéia do que possa ter acontecido durante esse intervalo de tempo. Ninguém sabe o que houve com Paulo durante todo esse tempo, onde está o resto de sua família e porque ele não se lembra de nada. Mas a pergunta mais intrigante, que vai guiar grande parte da tensão do livro é: por que Paulo parece simplesmente não se importar com tudo isso?

Entretanto, se por um lado existe o vazio de detalhes – do cenário, por exemplo, ou da própria trama –, os personagens são fortemente marcados e delineados através dos diálogos, sempre muito verossímeis, bem próximos do cotidiano, superando uma dificuldade comum a vários escritores, a de naturalizar o discurso direto. Nenhum traço de artificialismo mancha a escrita de Mutarelli, o que pode inclusive ser percebido também em um de seus livros anteriores, A arte de produzir efeito sem causa (2008), no qual uma história que tem contornos bastante surreais – pacotes misteriosos enviados por ninguém, códigos estapafúrdios e de resolução impossível e a participação mais que especial de William Burroughs – é narrada de modo a reproduzir perfeitamente o comum, o ordinário.

Só que ao contrário do que realiza em A arte de produzir efeito sem causa, em Nada me faltará Mutarelli optou por, de uma forma não explícita, resolver o mistério que perpassa a trama, o que pode fazer, inclusive, com que leitores menos atentos não percebam de forma definitiva a sugestão de resolução. No entanto, depois da leitura da obra, é fácil notar que essa é uma questão menor dentro da narrativa. O cerne do livro é, na verdade, a possibilidade da reflexão em torno de como a memória é a responsável pelo luto e pela melancolia e de como ela age em favor destes. Pois se o que faz o indivíduo se dar conta da perda é a comparação entre o antes e o depois e a constatação da lacuna, quando não existem lembranças não há parâmetro para comparação. Então ter tido e não ter mais não faz nenhuma diferença e a ausência não existe para quem não compreende o que de fato perdeu.



domingo, 26 de junho de 2011

Ego

Hoje em dia todo mundo quer ser poeta, como já disse uma música qualquer aí. Escrever é bem mais que simplesmente escrever, tem de haver verdade e sentimento. Noutro momento vai-se em busca de técnica, de identidade e linguagens. Em tantos anos fazendo isso, acredito que eu encontrei sim meu modo e meu ritmo. Mas das coisas que a escrita me proporcionou, a melhor e maior das conquistas foi o autoconhecimento e o “descarrego” daquilo que pesa. Poesia deve ser exatamente isso: peso. Engano pensar que todo peso é ruim, levezas também pesam, porque somos inconstantes e cansamos sempre. Num texto despretensioso, totalmente fora daquilo que costumo fazer, o meu encontro comigo mesmo, essencial para prosseguir me encarando nos textos meus textos mais crus. Este nasceu quando não mais achei necessário “escrever bonito”, é só fluidez. Um passo a mais.


***

Eu tenho me apaixonado todos os dias. E todos os dias são diferentes. Eu não ligo mais se é platônico, irreal, distante, improvável, unilateral. Eu me apaixono mesmo assim, vou sem medo, a paixão é só minha. É pura diversão sentir tudo em mim num reboliço gostoso irremediável. Dia desses eu me apaixonei por uma foto e passei toda a tarde gelada amando aquela imagem e refazendo-a em detalhes na minha mente, sentindo cada traço. Foi bonito.
Outro dia foi no ponto de ônibus durante o horário mais detestável. Toda aquela multidão saindo do serviço às 6 da tarde, aflita por um banho, para não perder a novela, para tomarem uma cerveja no bar da esquina. Todos aqueles rostos cansados se amontoando na calçada, reclamando da demora e da lotação. Aqueles semblantes pesados, pouco simpáticos… algumas moças falando demais, alto demais, assuntos confidenciais que eu jamais gostaria de ouvir; outros homens com uniformes sujos pela graxa da usina; as secretárias com sua roupa social de corte pouco nobre desproporcional à postura que adotam e ao tamanho do salto que calçam; os estudantes reunidos em grupo se sentido seguros para rir de tudo aquilo ao redor.
Eu ali parado, meio atordoado com tanta imagem, tanto som, tanta informação, desconcentrado de tudo,  mas atento a todos. De repente um ônibus passa rápido, ninguém deu sinal, ele não parou, mas por um ou dois segundos eu me apaixonei por aquela face, aqueles cabelos que mal pude compreender a cor, os lábios rosados, pele alva, olhos morenos. Eu me apaixonei. Eu quis sentir o cheiro, experimentar do gosto, decifrar os olhos, desvendar os segredos, saber dos amores, da vida. Que nome será que tem? E os filmes preferidos? Prefere esmaltes claros ou escuros? Será que ouve bandas legais? Desejaria a mim como a desejei? Ah, tudo em mim borbulhava e a minha razão se embaraçava com os doces desvarios. Leve. Fluido. Estive apaixonado até adormecer. Passou.
Num sábado de manhã escutei uma música que há muito conhecia, mas a danada nunca tinha me provocado daquele jeito. Entrei em grave estado voluptuoso. Lascivo e pouco são, estava apaixonado no sétimo dia da semana. Sábados sempre tão promissores e eu naquela onda louca, na sede, na urgência… ah, foi intenso! Passou.
Durante a semana, num dia bem insosso, provavelmente uma segunda-feira, levantei-me com o sol já quase a pino e me aconteceu a paixão mais improvável, bizarra e até mesmo engraçada.
No caminho para o banheiro encontrei-me com o espelho e resolvi parar ali, coisa completamente fora da minha rotina. Olhei bem tudo em mim, os poros, a cara amassada, as olheiras e o cabelo todo atrapalhado. Falei baixinho “puta que pariu, que cabelo é esse, cara?” e segui para o banheiro com risinho debochado no canto dos lábios.
Comecei pensar em mim enquanto urinava. Abro um parêntese aqui para dizer que naquele dia falei muito, muito comigo mesmo. Pois então, estava lá eu em pé no banheiro saciando minha vontade fisiológica e soltei a segunda frase do dia: “acordou animado hoje, hein, meninão!?” Ri de mim mesmo, voltei-me para a pia, escova em mãos e dentes à mostra, mas adiei o ato para reparar um detalhe. “Hum, boca bonita, bem desenhada… deve beijar muito bem”, e em seguida me mordisquei. — Mas que patético! — logo pensei em voz alta.
Tentei seguir minhas ações metódicas de todos os dias, até que na hora de usar o perfume percebi que o cheiro era muito bom, e eu inteiro tinha aquele cheiro. Vi minha prateleira de livros e percebi que eu tinha um puta bom gosto, as bandas que eu ouvia eram fodas, sabia cozinhar bem e meu português não era nada decepcionante. Puta que pariu, me apaixonei por mim mesmo! Desejei-me nas mais diversas formas e, por incrível que pareça, dessa vez era recíproco no sentimento e na intensidade do sentimento. Foi um dia inteiro de amor insano, risos, paixão aguda, quente, despudorada e transcendente. Fiz de tudo para me agradar, para não me perder, para me conquistar, me causar uma boa impressão. A melhor roupa, a melhor comida, as melhores músicas, a melhor cerveja e os assuntos mais empolgantes.
Foi perfeito, foi revelador. Alucinante! A maior das paixões, a mais memorável! Mas percebi que não poderia pra viver aquilo todo dia, pois havia muita vida acontecendo do lado de fora. Tenho tentado aprender como funciona essa tal de vida, até me divirto com ela às vezes. Contudo, nunca vou esquecer daquele dia. Sei onde me encontro, peguei meu número de telefone e me ligo sim. Porque sou boa companhia, sou diversão. Dessa paixão eu nunca mais acordei. Estou com Manoel de Barros quando ele diz “quero apalpar meu ego até gozar em mim”. E quero mesmo. É um relacionamento aberto, mas respeitoso. Tem alguma putaria, mas também rola a compreensão.

***

Darlan Augusto Costa, mas Augusto é sobrenome, deixemos claro. Escrevo torto porque floreios não ornam bem com o ar poluído de Volta Redonda. No Palavras Oblíquas dou espaço para experimentações e espelhos, às vezes pesados demais pros meus 22 anos.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Edição de aniversário do Eco


Desde junho de 2008 o Eco Performances Poéticas vem sacudindo o cenário da poesia e da literatura de Juiz de Fora e região. Sim, você fez as contas certas: esse já é o QUARTO ano do Eco. E a comemoração, claro, será em grande estilo.
Para começar a esquentar a noite de aniversário, acontece a exibição de estréia do mini-documentário sobre a recente participação do Eco no CEP 20.000, um dos eventos de poesia mais importantes do país, que rola mensalmente no Rio de Janeiro.
A seguir, fazendo as honras da casa, o mestre de cerimônias Anderson Pires comanda o set dos poetas convidados e chama ao palco alguns dos (des) organizadores do Eco. Tiago Rattes, Luiz Fernando Priamo, Laura Assis, Larissa Andrioli e José Alexandre Abramo estão confirmadíssimos nesse elenco mais que familiar.
A noite, que terá bolo, velas e parabéns pra você, será como sempre comandada pelo coração do Eco, o maestro Pedro Paiva, que traz nas pontas dos dedos e dentro do case o melhor da música em vinil.
O microfone aberto dessa edição de aniversário será apresentado por Anelise Freitas e vai garantir que o público, sempre presente no Eco, faça parte da festa e comemore a poesia independente.
Lembrando que começamos pontualmente às 20h. Meninas trazem poesia e meninos trazem... poesia também! Até lá.

Eco Performances Poéticas
Dia 02 de junho, quinta-feira.
A partir das 20h, no Espaço Mezcla.
(Rua Benjamin Constant, 720. Centro, JF)
ENTRADA FRANCA


Apoio:
Blues Audio Vintage
Av. Rio Branco, 2089, Gal. Salzer. Lj 14.
Centro, JF
Tel: (32) 3211-2819

terça-feira, 24 de maio de 2011



Nesta quarta-feira, 25 de maio, o Eco Performances Poéticas desembarca no Rio de Janeiro para participar do CEP 20000. O CEP 20000 é um dos mais importantes e tradicionais eventos de poesia do Brasil, tendo como seu anfitrião o poeta múltiplo, Chacal. Há 20 anos é um espaço de difusão, exposição, amplificação, e ressonância da poesia e de outras formas de arte no Rio de Janeiro. Acontece toda última quarta do mês, no Espaço Cultural Sérgio Porto, no bairro de Humaitá. Dentro do CEP20000, um dos quadros, símbolo da permanente renovação do evento, é o espaço do jornal Plástico Bolha, onde estará o Eco. O convite foi oficializado por um dos editores do Plástico, o poeta Lucas Viriato, que já esteve em JF, marcando presença no Eco.
Nesta quarta, a trupe vai ecoar em terras cariocas, no ritmo da excursão. Escalados: Anelise Freitas, Luiz Fernando Priamo, Laura Assis, Larissa Andrioli, Tiago Rattes e nosso maestro das pick-ups, Pedro Paiva. Participa também André Capilé, fundador do Eco e figura fundamental na ponte poética entre Rio e JF e a fotógrafa Thais Thomaz, que tem feito um belo trabalho de registro do Eco.


PROGRAMAÇÃO:

CINECURTA CEP:
Pretinho Babylon, de Emílio Domingos e Cavi Borges

POESIA:
Romã Neptune, André Pessoa, Gregório Duvivier, Ismar Tirelli Neto,
Leonardo Marona e a participação dos poetas da oficina Farani Cinco Três!

ESPECIAL DE JUIZ DE FORA:
Eco Performances Poéticas - a missão!
com: André Capilé, Anelise Freitas, Larissa Andrioli, Laura Assis,
Lucas Viriato, Luiz Fernando Priamo, Tiago Rattes de Andrade,
Thais Thomaz (fotos) e Pedro Paiva (som)

MÚSICA:

Dimitri BR: voz e cavaquinho
(diahum.blogspot.com)
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Os Siderais
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Show da banda DeLírios Tropicais
(myspace.com/deliriostropicais)


Blog do Plástico Bolha: jornalplasticobolha.blogspot.com